Revisões da infraestrutura viária local: o reconhecimento do lugar público no território desruralizado e extensamente urbanizadode Santa Maria da Feira

Ivo Oliveira

A presente investigação estuda a infraestrutura viária local do território desruralizado e extensamente urbanizado do município de Santa Maria da Feira, um território sobre o qual persiste um quadro de conceptualização e de modelos de intervenção baseados na dicotomia rural/urbano. Defendendo uma abordagem sistémica e sustentada no contacto direto com o espaço em análise, procurou a identifi cação e valorização de temáticas cujo manuseamento amplie as possibilidades de revisão positiva da infraestrutura viária local, enquanto dispositivo central à identidade e qualifi cação da urbanidade. Reconhecendo a infraestrutura viária local como um sistema plural em metamorfose, a tese argumenta que a instabilidade que lhe é característica confere ao seu espaço uma dimensão experimental que pode ser associada a sistemas relacionais mais complexos e menos evidentes. As leituras desenvolvidas sob essa perspectiva apresentam-se sob a forma de exploração de temas específi cos que ocorrem da interpretação das características formais, materiais e imateriais deste território e imaginam possibilidades de revisão que se pretendem como novos caminhos à sua apreensão: através da caracterização do papel do Estado Central nas estratégias de controlo dos processos, dos espaços e dos sistemas de representação da infraestrutura viária em Portugal, explica-se a produção do Lugar da Nação; com o olhar centrado no território municipal de Santa Maria da Feira, identifi cam-se fatores e qualidades que preservam um Lugar Homogéneo, um lugar que ao longo dos tempos tem estado sujeito a processos que impediram a constituição das polaridades espaciais mais canónicas e que conserva características estruturais da infraestrutura viária local; apresenta-se o Lugar Aberto, enquanto atributo de um território totalmente urbanizado onde a infraestrutura viária local é passível de se valorizar pela expressividade do suporte físico e das práticas individuais que ocorrem entre o edifi cado; a infraestrutura viária local emerge como um Lugar Compósito resultante da acumulação de variados modelos urbanos e da presença de atores individuais e coletivos que procuram garantir a máxima autonomia jurídica, administrativa e técnica nas suas ações de transformação, ao mesmo tempo que os seus sistemas perdem coesão interna e consonância nas relações que estabelecem com os demais; revelam-se ainda, apesar da transformação genérica e uniformizante a que o território está sujeito, identidades espaciais que persistem e que fazem da infraestrutura viária local um Lugar de Ambiências. O contributo das revisões construídas para cada Lugar articula-se, como síntese, na afi rmação da condição específi ca da infraestrutura viária local do território desruralizado e extensamente urbanizado enquanto Lugar Público: um lugar coletivo, de múltiplas expressões individuais, que alberga uma sucessão e sobreposição de lugares e que resiste, na sua singularidade, ao sempre crescente determinismo e banalização das ações técnicas e administrativas que lhe são impostas.