Incitar o tempo. Processos, lugares e espaços no Vale do Cávado

Fernando Ferreira

O presente projecto, tem como base uma amostra no território do vale do Cávado.
Admitindo que este é um território repleto de leituras e sobreposições, pretende-se desenvolver uma metodologia alternativa ao projecto de arquitectura convencional. Uma metodologia que não se esgote no desenho tradicional do edifício, mas que ao invés, seja transversal a diversas escalas, sistemas e lugares presentes na amostra. Um projecto que seguindo um processo de conhecimento aberto e flexível, reconhece nos traços de memória e nas actividades prosaicas do sítio, instrumentos projectuais catalisadores de novas possibilidades e intervenções neste território.

Partindo deste objectivo, interpreta-se uma amostra no vale do Cávado, como ponto de partida para a construção de um olhar específico, que propõe o conceito fissura, enquanto metáfora crítica das descontinuidades entre os diversos sistemas e escalas presentes na amostra. Descontinuidades que são resultado de processos de transformação distintos ao longo do tempo: processos assentes no abandono de actividades em espaços; processos que anulam as especificidades e relações entre os lugares, apagando os seus traços; processos imprevisíveis que artificializam a paisagem. Em síntese, processos de fissuração que provocam descontinuidades, fissuras no tempo.

Partindo do conceito specific indeterminacy, desenvolvido por Florian Beigel e Philip Christou, discute-se o conceito incitar, enquanto estratégia interventiva face às fissuras no tempo. Estratégia esta, que partindo das especificidades presentes nas fissuras, e a importância que os processos de fissuração têm na sua origem, propõe atrair actividades indeterminadas, despoletar o tempo nas fissuras.

Propõe-se um mecanismo de transformação no tempo. Experimenta-se projectar com o tempo.