Ano Letivo

2020/2021

Unidade Curricular

Laboratorio de Urbanistica

Ano Curricular

Docência

Cidália Ferreira Silva, Vincenzo Riso e Débora Moura

Título do Exercício

Estratégias de intervenção para o Bairro da Emboladoura

Local de Intervenção

Bairro da Emboladoura, Gondar, Guimarães

Enunciado do Exercício

Este é o exercício de síntese, onde serão trabalhadas as ferramentas exploradas ao longo do ano letivo. Como refere Solà-Morales (1979) “Desenhar é selecionar, selecionar é interpretar, interpretar é propor”. Neste exercício pretende-se formular uma estratégia de reestruturação de um espaço público ou de uma estrutura de escala urbana ou territorial ou de qualquer outro sistema temático reconhecido durante a primeira fase, para o desenvolvimento do projeto de transformação. Considera-se implícito que a intervenção parte do reconhecimento das dinâmicas sócio-espaciais identificadas. Será valorizada a capacidade do lugar-projeto ser consequente ao nível de toda a amostra, na procura de uma transversalidade de escalas relacionais. Pretende-se que se descubra na especificidade do sítio e na sua indeterminação futura, a vocação e o despoletar do projeto com a seguinte estrutura: 1. “Citar” – selecionar/representar os elementos de permanência do lugar que servirão de suporte ao projeto, como por exemplo a topografia, a rede hidrográfica, a infra-estrutura, as estruturas abandonadas, os muros, a vegetação, as apropriações, as alterações e até as incongruências identificadas no bairro, etc; 2. “Recitar” – desenhar a estrutura base, que integra-transforma o ‘citar’, e serve de suporte à indeterminação futura, nomeadamente ao nível dos usos; 3. “Incitar” – antecipar os cenários possíveis de transformação da estrutura base, ao nível por exemplo da sua apropriação futura. Sintetizando, entende-se que a estrutura base do projeto, é uma matriz operacional livre, flexível, que aceita a incerteza programática. É citar potencialidades (permanências) e incitar distintos modos de apropriação e programas incertos (mutação). É aceitar o projeto enquanto mecanismo de transformação e de criação de cenários no tempo.

Estratégias de intervenção para o Bairro da Emboladoura

Vários Autores

ANATOMIA URBANA por Ana Paula Coelho, Andreia Margarida Pinto, Francisca Machado e Pedro Matos Vieira

Ao observar o Bairro, é possível perceber que existem dois tipos de usos - os que são feitos pelas pessoas numa apropriação do espaço público através da transpiração do espaço interior, face a uma necessidade de expansão do ambiente da casa para apropriação da área exterior, como é comum em bairros sociais, mas também aqueles que o bairro oferece, produzindo zonas exteriores que podem ser usados pela população, que não só qualificam o espaço, mas também permitem usos diversificados. O bairro oferece vários lugares pré-determinados para uso coletivo ou público - um parque infantil, um campo de jogos, e zonas de lazer, mas os desenvolvidos posteriormente pelos seus habitantes que são vistos como principais para a nossa análise, como espaços informais de churrasco, estendais, garagens e marquises.

Idealizamos assim uma estratégia que terá o objetivo de ligar os vários usos, não só no espaço central, mas sim por todo o bairro, Gondar e São Jorge de Selho, consequentemente criar a possibilidade de novos usos serem introduzidos, tais como hortas comunitárias, espaços comuns de churrascos que vão promover a comunicação e a vivência conjunta dos habitantes. Afere-se assim, a necessidade da criação de espaços de lazer junto dos usos, para que os mesmos possam ser propícios à realização de atividades diversas dentro do mesmo ambiente.

Em suma, conseguimos concluir que o Bairro da Emboladoura poderá transpor uma vontade de comunicação com Gondar e São Jorge de Selho. Neste sentido, a análise e posterior colocação de estruturas em diversos locais irá refletir a vontade de colocar a Emboladoura como o coração deste espaço, deixando os restantes como ramificações do mesmo.



ITINERÁRIO DO CONHECIMENTO
por Ana Beatriz Freitas, Ana Rita Leite, Manuela Alves e Nelson Silva

O trabalho desenvolveu-se em torno da criação de três itinerários que permitem aos seus utilizadores adquirir diferentes tipos de conhecimento. Estendendo-se sobre as áreas do conhecimento da “Sustentabilidade”, do “Património” e do “Lúdico-Móvel”, ao longo das fluentes do rio, nomeadamente nas freguesias de Selho S. Jorge, Gondar e parcialmente

em Serzedelo.

O “Itinerário da Sustentabilidade” procura dar a conhecer aos visitantes, ao longo de um percurso, os vários espaços disponíveis neste território que demonstram as diferentes noções de sustentabilidade. Esta é tida como o usufruto da natureza pelo ser humano, de forma a que seja garantida a preservação dos recursos disponíveis de maneira consciente.

O “Itinerário do Património” suscitou interesse, uma vez que permite dar a conhecer bens naturais e físicos, que ajudam a identificar e a determinar esta comunidade. Proporciona uma relação próxima entre a identidade do local, aqueles que a habitam e o contexto histórico.

O “Itinerário Lúdico-Móvel” visa melhorar a experiência dos jovens e acrescentar-lhes um conhecimento com uma vertente mais recreativa no trajeto entre o Bairro e a Escola do Barreiro. Procura-se transmitir mais que um conhecimento informativo, isto é, permitir diferentes saberes por via da ação e das experiências, tornando desta forma significativa a aprendizagem lúdica.

Após esta análise, foram criados três workshops que promovem o contacto com os jovens através de caminhadas, onde se procurou a criação de ligações e aprendizagens que se alteram consoante a pessoa, a companhia, o dia, a vivência e o trajeto.

Durante todo este processo, fomos confrontados com a questão do que poderá ser uma paragem além de uma paragem, concluímos que a resposta é diferente de indivíduo para indivíduo, pois cada um possui uma perspetiva diferente.



CONEXÃO DE SERVIÇOS/TEMPO
por Ana Lia Teixeira, Ana Rita Teixeira, Ana Rita Silva e Carina Jaques

A ideia subjacente a esta estratégia, parte do princípio de uma ligação biunívoca entre o bairro e os serviços, que pode ser compreendida quando analisada tanto do geral para o particular, como do particular para o geral. Esta pretende não só requalificar e conectar os serviços e os espaços adjacentes, mas também os mesmos com o tempo.

No sentido de desenvolver a proposta, no bairro, inseriram-se novos serviços necessários à população, com novos horários e mais alargados, de forma que esta tenha mais tempo de usufruir dos serviços e que estes sejam compatíveis com os diversos horários da população. Criou-se também um centro comunitário, que é simultaneamente um núcleo de serviços necessários ao bairro e de lazer. Este centro é adjacente a um espaço multifuncional aberto a toda a comunidade e com horários livres, que visa atrair as pessoas de fora até ao bairro, reforçando assim a ligação biunívoca. Como por exemplo: através da criação de espetáculos (sessões de cinema, concertos, sessões de leitura, entre outros) e de feiras através do auxílio de bancas desmontáveis.

A uma escala territorial, reduziu-se o papel do carro território. Privilegiando a mobilidade pedonal e de autocarro, através: da criação de novos passeios; aumento de iluminação; colocação de equipamentos para o estacionamento de bicicletas, para incentivar a locomoção desta mobilidade no território; criação de espaços de lazer, adjacentes aos serviços, com mobiliário urbano para possibilitar momentos de descanso, de acordo com os horários de funcionamento dos serviços, para que as pessoas possam disfrutar destes espaços nas suas chegadas, saídas e nos seus momento de pausa; requalificação das paragens de autocarro e criação de um novo percurso para não só melhorar a deslocação entre o bairro e os serviços, e entre serviços , mas também para diminuir o tempo de deslocação entre os mesmos.



REJUVENESCIMENTO HIDROGÁFICO
por Carlos Silva, Dinis Braga, Inês Baganha e Sónia Pereira

A zona de intervenção delimita-se pela redescoberta da linha de água esquecida, mas cuja sua presença não pode, nem deve ser ignorada. Esta linha, ora coberta, ora descoberta, tem o seu percurso intersetado e desviado por fábricas, vias e campos.

Para que seja possível uma interpretação da génese desta linha, as intervenções propostas procuram ser entendidas a grande escala. É necessário entender o impacto causado pela envolvente e especificamente pelas fábricas enquanto fatores que alteram o bom funcionamento da mesma. Sendo assim, podemos propor que a utilização deste bem público por entidades privadas (fábricas) não deve pôr em causa a intensidade e a qualidade da rede hidráulica. Acrescenta-se ainda como fator importante da proposta a redescoberta de cursos de água cobertos e que os mesmos possam voltar ao seu estado nativo. Ainda assim é proposta a introdução de vegetação que auxiliem em todo este processo de purificação e requalificação da rede hidrográfica.

Portanto, podemos concluir que um ato individual em território privado pode ter implicações e consequências coletivas nos ecossistemas. “Mesures of faith” é um conjunto de medidas “que promovem esperança Humana, geralmente fazendo aparecer aquilo que é imensurável”. A partir desta afirmação, considerámos a natureza como algo imensurável, um bem que devemos preservar, sendo neste sentido, a nossa forma de atuar, através do restauro ecológico da zona em estudo. Neste sentido, esta proposta tenta criar um novo ciclo de autorregeneração, baseado no ecossistema em estudo.

Tendo em consideração a nossa estratégia de trabalho, propomos a análise de algumas intervenções urbanísticas que consideramos relevantes, uma vez que as suas estratégias em muito se assemelham com as que são as propostas por nós.



ALTIMETRIA DA EMBOLADOURA
por David Alcobia, Diogo Machado e Tiago Santos

Começamos por estudar as diferentes soluções topográficas e adaptá-las às exigências existentes no bairro, como por exemplo os socalcos com fins agrícolas, os muros de suporte, taludes, aterros ou desaterros…. Outra fase de estudo foi o conhecimento de referências de outros projetos e arquitetos com os mesmos desafios e problemas, como o Peter e Alison Smithson em Robin Wood Gardens, ou os projetos de Lacaton e Vassal, ou a ideia no projeto de Peter Eisenmen em Santiago de Compostela…

E foi com base nestas duas de estudo que chegámos à proposta (radical) de transformação e melhoramento do urbanismo e condição de vida no bairro da Emboladoura. A nossa proposta consiste praticamente em duas partes, a parte a Este da estrada que entra no bairro e a parte oeste.

Esta proposta resulta de um estudo ao nível da microtopografia (as hortas dos residentes, as churrasqueiras escavadas na rocha, os estendais improvisados, os canteiros de arranjos exteriores…) e ao nível da macrotopografia (os estacionamentos e acessos automóveis, a própria topografia do terreno, o campo de fubetol, e a própria relação dos edifícios com os espaços exteriores).

Concluindo, afirmamos que a nossa proposta vai de encontro às nossas próprias exigências e problemas que nós analisámos no bairro, criando um parque continuo e que transpira as próprias apropriações como se estas agora sim façam parte do projeto, sendo que caracterizamos a nossa estratégia como uma manta de terreno onde as pessoas farão as suas próprias topografias. Nós estendemos a toalha e os residentes deste espaço fazem o “piquenique”.



CITY ROUTE
por Cláudia Carvalho, Edgar Mendes, Nuno Silva e Tiago Pereira

Na segunda fase do exercício, a formulação da estratégia de intervenção procura elaborar um processo que auxilie a potenciar - e possa inclusive aumentar – as possibilidades e formas de percorrer este território, adequando-o às várias funções que lhe estão associadas, tendo como ponto de partida o reconhecimento da ligação histórica com as fábricas no passado uma perspetiva de maior continuidade na ligação do bairro à cidade.

Com base neste princípio, a estratégia convergiu num conjunto de oficinas, no qual a participação ativa por parte dos moradores do Bairro da Emboladoura assume um papel fundamental na identificação de intenções, de forma a despoletar na elaboração de um projeto posterior, um plano que considere a vertente funcional e infraestrutural, ao mesmo tempo que conecte o bairro com a cidade, não descurando as suas componentes laborais e culturais.

A primeira oficina “Unknown Legacy” é composta por três atividades que procuram despoletar a memória experiencial dos habitantes, fomentando uma noção de pertença e de património do bairro. A segunda oficina “SteetScape” desenrola-se numa componente mais experimental/prepositiva dos moradores, com o propósito de criar um impacto no entendimento do percurso até Guimarães e como poderão ser introduzidas outras formas de deslocação e transporte alternativo. Será esta que encaminhará para a realização de uma proposta interventiva.

O critério de projeto da proposta surge da preocupação de enquadrar os equipamentos existentes com passeios e estranha, e, quando possível, melhorar as suas dimensões sem que se verifique uma alteração profunda no desenho existente.

Em suma, a preocupação por uma intervenção que se apresente como possível e viável para uma eventual intervenção revelou que não é necessária uma enorme mobilização de recursos financeiros, mas sim alias aquilo que é o custo que se poderá esperar com um planeamento e adaptação do existente, em conformidade com a participação dos habitantes. Ou seja, o raciocínio geral do realizar um movimento participativo da população do bairro, e a partir desse conhecimento identificar uma ação concreta que se revela numa componente prática e projetual.