Ano Letivo
2012/2013
Unidade Curricular
Tese de Mestrado
Supervisor/Orientador
Cidália Ferreira da Silva
Local de Intervenção
Litoral Norte, Viana do Castelo, Portugal
André Castanho
Cultura da Desintegração é uma metáfora que procura descrever as transformações ocorridas numa amostra do Litoral Norte de Viana do Castelo, traduzindo o abandono agrícola, e os temas difíceis da desruralização, em processos sintomáticos de decadência. Através de uma narrativa fotográfica, sustentada pelo mapeamento cartográfico, forma-se uma linguagem nova, crítica, enquanto meio operativo para o reconhecimento do lugar.
A investigação desenvolve-se a partir da análise de um veiga agrícola localizada entre a marginal atlântica e uma encosta montanhosa paralela. A veiga foi um pólo de grande importância social e económica durante o século XX, centrando as atividades de uma comunidade rural e de um sistema produtivamente rico conectando-a com o mar e com o monte. O resultado do seu abandono é a segregação completa entre estas três realidades, mar, veiga e monte, e a dissolução das antigas unidades agrícolas e dos velhos patrimónios fundiários que as governavam.
Num conjunto de dinâmicas lentas de ruptura, ruína e decadência tornam-se numa manifestação material evidente do Litoral Norte de Viana do Castelo. E a veiga, que hoje integra os programas da RAN (Reserva Agrícola Nacional), e da PAC (Política Agrícola Comum), parece constituir a memória desvanescente de uma identidade perdida. As ruínas, os vestígios e as marcas desta identidade, enquanto objectos passíveis de reconhecimento, são o sujeito desta investigação.
Como meio de entendimento do lugar em função da Cultura da Desintegração, a investigação foca-se em três processos distintos. Denominados Processos da Desintegração, alude-se a trabalhos normais na agricultura para caracterizar as transformações ocorridas no lugar. O primeiro, Enxertia, procura reflectir sobre as ações de urbanização ocorridas no monte, aludindo a uma caracterização heterogênea entre a estrutura parcelar pre-existente e as formas de loteamento contemporâneas. O segundo, Adubar, equaciona o abandono das atividades piscatórias, associadas ao mar e à orla costeira, como impulsionadora da Desintegração. Por fim, Semear, reflecte mais aprofundadamente sobre o espaço da veiga, demonstrando como a estrutura parcelar, minifundiária, reflexo de uma ordem patrimonial complexa, constitui um dos pontos de eclusão da Cultura.
Como meio para a desconstrução da noção convencional de abandono, que pode sempre acarretar uma conotação negativa, o termo Cultura da Desintegração, inscreve as ações de ruína e decadência, numa hipérbole de ações continuadas, num modo de fazer, característico de qualquer cultura, e, por isso, num modo de construir, de formar costumes e tradições. É nesta ambiguidade entre decadência e construção, que o presente exercício serve também para questionar as lógicas convencionais e colonizadoras da arquitectura. Num lugar onde a construção não é um solução, sendo até proibida, coloca-se a questão ao papel e dever do arquitecto. A metodologia proposta serve como base a uma ação que pode ser alternativa, mas que deve sempre assentar numa maneira específica, e subjectiva, de olhar o território real.